terça-feira, 21 de junho de 2011

Projeto de Pesquisa da Elzinha

Tema

A música para acalmar


Introdução

A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, ocupa lugar de grande relevância na vida de crianças da faixa etária compreendida entre 0 e 6 anos. Entretanto, por ser a primeira experiência da criança em um espaço e com pessoas totalmente desconhecidas à ela e com o agravante da separação da família, o momento de seu ingresso neste nível de ensino, gera na mesma uma sensação de solidão e insegurança, significando para a criança uma importante ruptura. Em conseqüência disto, o ingresso da criança na Educação Infantil, gera várias reações de protesto por parte das crianças incluindo: agitação, agressividade, recusa em dormir, em alimentar-se e principalmente, choro excessivo. Diante de tal realidade enfrentada pela criança e pelos profissionais da Educação Infantil, torna-se oportuna a descoberta de estratégias que possam intervir no processo de adaptação da criança, de modo que o ingresso da mesma na Educação Infantil aconteça de forma menos traumática para ela. A reflexão sobre as possíveis estratégias de intervenção quanto ao fato, fez emergir o interesse sobre as contribuições oferecidas pelo trabalho com a música no interior das instituições de Educação Infantil. No decorrer da pesquisa sobre as possibilidades de trabalho com a música, houve uma ampliação de perspectivas, o que promoveu um distanciamento do caráter meramente utilitarista do trabalho com a música, inicialmente vislumbrado.

Justificativa

A inquietação gerada na criança que chega à primeira etapa da educação básica, a Educação Infantil, despertou o interesse pela pesquisa sobre intervenções pedagógicas que sejam mediadoras de um processo de construção de saberes, com vistas à superação dos conflitos vivenciados pelos pequeninos, num momento de tamanha importância para os mesmos, ou seja o seu ingresso na Educação Infantil. O reconhecimento sobre a importância do desenvolvimento dos aspectos físicos, afetivos, emocionais, cognitivos/ lingüísticos e sociais, presentes na criança justifica a preocupação em que se estabeleçam pontes de interação das crianças com seus pares e com os profissionais educadores que atuam na Educação Infantil. Nesse sentido, a música surge como uma significativa possibilidade de trabalho.

Objetivos

- Construir um conjunto de conhecimentos teóricos sobre o significado da música e suas possíveis aplicações práticas no cotidiano da Educação Infantil;
- Contribuir para o desenvolvimento de seres sensíveis, criativos e nutridos de valores como, amor, carinho, respeito e compreensão.

1 – Música
1.1 – O que é música?

Muitas são as construções conceituais sobre a música mas de uma forma geral, a música é considerada como ciência e arte. Segundo Bréscia (2003), a música é uma linguagem universal, cuja participação na história da humanidade, desde as primeiras civilizações é algo pontual. Segundo dados antropológicos, as primeiras músicas teriam sido usadas em rituais como, casamento, nascimento, morte, recuperação de doenças e fertilidade. Com o desenvolvimento das sociedades, a música passou também a ser utilizada em louvor à líderes, como a executada nas procissões reais do Egito e da Suméria. Houaiss apud Bréscia (2003, p.25), conceitua a música como “[...] combinação harmoniosa e expressiva de sons e como arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização, etc”. Assim, a música enquanto construção histórica, ocupa lugar de grande relevância nas diversas culturas que permeiam as sociedades.

1.2 – Os elementos da música

De acordo com Weigel (1998, p.10), “os quatros elementos básicos que compõem a música são: som, ritmo, melodia e harmonia. Som são as vibrações audíveis e regulares de corpos elásticos, que se repetem com a mesma velocidade, como as do pêndulo do relógio. As vibrações irregulares são denominadas ruído. Ritmo é o efeito que se origina da duração de diferentes sons, longos ou curtos. Melodia é a sucessão rítmica e bem ordenada dos sons. E finalmente, harmonia é a combinação simultânea, melódica e harmoniosa dos sons. Considerando os elementos básicos da música, Wlhens apud Gainza (1987, p.36), afirma que: “Cada um dos aspectos ou elementos da música corresponde a um aspecto humano específico, ao qual mobiliza com exclusividade ou mais intensamente. O ritmo musical induz ao movimento corporal, a melodia estimula a afetividade, a ordem ou a estrutura musical (na harmonia ou na forma musical), contribui ativamente para a afirmação ou para a restauração da ordem mental no homem”.
Desta forma é possível perceber que a música relaciona-se ao se humano, interferindo diretamente sobre as percepções e reações produzidas pelo mesmo.

2 – A relação da criança com a música
2.1 – No pré e no pós-natal

Pesquisas revelam a relação entre a criança e a música antes mesmo de seu nascimento. Quando ainda no útero materno, o bebê ao conviver com os estímulos sonoros como por exemplo, as batidas do coração, a respiração e o fluir do sangue nas veias, já percebe e se envolve com a sonoridade por intermédio do corpo da mãe. A relação entre a criança e a música após o nascimento continua em processo gradualmente mais efetivo à medida em que à partir de seu nascimento, a criança passa a demonstrar uma atenção especial quanto a tudo aquilo o que é sonoro. Como exemplo podem ser citados, os brinquedos que fazem barulho, as vozes das pessoas, os sons emitidos pelos animais, as buzinas dos carros nas ruas, as músicas, os sons da tv, etc. Com o decorrer do tempo, o envolvimento da criança com a música amplia-se já que, à partir de então, a criança descobre-se capaz de reproduzir através da própria boca, das mãos e também por intermédio de objetos, os sons que lhe propiciam momentos de entusiasmo tal que levam-na a acionar um outro mecanismo de expressão que diz respeito aos movimentos corporais. Assim, a constatação de que a música como algo presente na vida da criança desde a mais tenra idade e de que ela propicia à criança tão importantes experiências de expressão, é um indicador seguro de que ela, a música, possui um grande leque de possibilidades pedagógicas. Tais possibilidades contribuem potencialmente para o ideal desenvolvimento da criança, contemplando os vários aspectos pertinentes à mesma quer sejam, os físicos, os emocionais, os afetivos, os cognitivos/ lingüísticos e os sociais.

2.2 – Na escola

O trabalho com a música na escola, tem sido percebido e reconhecido por inúmeros especialistas em educação, como um importante meio para o desenvolvimento da criatividade das crianças, da capacidade intelectual, da capacidade de interação, da capacidade de expressão e de outras capacidades que são fundamentais para o pleno desenvolvimento do ser. Motivada pela compreensão da importância da música na educação, foi sancionada em 18 de agosto de 2008, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a lei nº 11.769 que torna obrigatório o ensino da música no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. À partir daquela data as escolas teriam três anos para adaptar seus currículos na área de artes. No comentário de Snyders (1992), A função mais evidente da escola é preparar os jovens para o futuro, para a vida adulta e suas responsabilidades. “propiciar uma alegria que seja vivida no presente é a dimensão essencial da pedagogia, e é preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados, compensados e recompensados por uma alegria que possa ser vivida no momento presente” (SNYDERS,1992, p. 14). A música sendo um elemento passível de ser compartilhado, promove entre outras coisas, um movimento que na educação, deve ocupar um lugar privilegiado de interação entre os sujeitos. A música traz grandes benefícios ao ambiente escolar tornando-o mais alegre. “ Propiciar uma alegria que seja vivida no presente é a dimensão essencial da pedagogia, e é preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados, compensados e recompensados por uma alegria que possa ser vivida no momento presente” (SNYDERS, 1992, p.14). Com base no pensamento do autor, infere-se que a alegria vivenciada no ambiente escolar através da música, propiciará maior fluidez às aprendizagens promovidas pela escola.

3 – A música na Educação Infantil
3.1 – Conhecimento de mundo

O reconhecimento da importância da música para as crianças e para os jovens do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, expande-se também ao nível de ensino denominado Educação Infantil. O próprio MEC através do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), recomenda a iniciação musical nesta etapa da educação. Neste documento, no vol. 3 intitulado, “Conhecimento de Mundo”, encontram-se os seis eixos de trabalho que facilitam a construção das diferentes linguagens pelas crianças, bem como para as relações que as mesmas estabelecem com os objetos do conhecimento. Dentre os seis eixos de trabalho que são: movimento, artes visuais, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade, e matemática, está o eixo música. No referido documento encontram-se descritos individualmente, a concepção de cada eixo, com os seus respectivos objetivos, conteúdos e orientações didáticas. Convém expor aqui, apenas o eixo dois denominado “música”. Quanto à concepção, no RCNEI a música aparece como uma das formas de expressão dos sentimentos, pensamentos e comunicação, se fazendo presente em nossa cultura e devendo por isso ser cultivada na educação pois propicia a interação e a integração. No que se refere aos objetivos, o eixo música visa explorar e identificar os elementos da música para se expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento de mundo. Estimular as percepções e expressões de sentimentos e pensamentos por meio de improvisações, composições e interpretações musicais. Já os conteúdos do eixo música, dividem-se em dois blocos: o fazer e a apreciação musical. Para finalizar, as orientações didáticas deste eixo prevê o trabalho com a música na Educação Infantil conduzido sempre de modo que possibilite à criança, o enriquecimento e o crescimento dos diversos aspectos referentes à produção musical. Nesta perspectiva, é fundamental a apreciação de música sem textos, para que a criança possa perceber e sentir os diversos sons e possibilidades de melodias. Compreendidos os ideais propostos no RCNEI, é possível concluir que, se para as crianças e para os jovens dos demais níveis de ensino da educação básica, a inserção da música na escola é considerada como um elemento facilitador das aprendizagens, que resultarão em melhores perspectivas quanto ao presente e ao futuro dos mesmos, para as crianças da Educação Infantil, não é diferente já que, segundo a Declaração Mundial de Educação para Todos (Jomtien, Taylândia, 1990), “A Educação Infantil inaugura a educação da pessoa”. A inserção do trabalho com a música na Educação Infantil, cumpre portanto um papel fundamental na vida dos pequenos do ponto de vista pedagógico, contribuindo conseqüentemente para a formação integral dos mesmos.

3.2 – Numa perspectiva ampla de ensino

É importante saber que o trabalho com a música na Educação Infantil, deve ultrapassar a visão pragmática, utilitarista e imediatista. Ao contrário disso, o trabalho pedagógico com a música na Educação Infantil deve privilegiar as ações educativas numa perspectiva ampla de ensino, perspectiva esta que é própria à construção do conhecimento, no qual a criança é percebida como o sujeito do aprendizado. Tal construção do conhecimento pressupõe entre outras coisas, a fomentação da descoberta por parte da criança bem como da criatividade, da sensibilidade e da capacidade reflexiva. Tais pressupostos são fundamentais ao bom desenvolvimento das crianças numa etapa de suas vidas que certamente exercerá influência sobre as etapas posteriores. “A música e o som, enquanto energia, estimulam o movimento interno e externo no homem; impulsionam-no à ação e promovem nele uma multiplicidade de condutas de diferentes qualidades e graus” (GAINZA, 1988, p.22). A expressão musical como parte integrante da cultura aparece no contexto social e educativo, sendo manipulada pelos sujeitos com o objetivo de comunicar. Desta forma, a música como uma forma de linguagem possibilita a organização das estruturas cognitivas, estabelece diálogos, gera significados, interpreta e reinterpreta a realidade, ampliando portanto as possibilidades dos sujeitos no meio em que vivem. A Educação Infantil, percebendo a criança como construtora de conhecimentos e autora de seu próprio discurso, deve incluir a música em suas propostas de ensino considerando-a como área de conhecimento e possuidora de linguagem própria. O RCNEI justifica esta afirmativa da seguinte forma: “A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de integração e comunicação social conferem caráter significativo à linguagem musical. É uma das formas importantes de expressão humanas, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na Educação Infantil, particularmente” (BRASIL, 1998c, p.45). Sendo assim, o trabalho o trabalho com a música numa perspectiva ampla, possui uma intencionalidade educativa que possibilita às crianças da Educação Infantil, percepções e sensações em sua relação com o mundo e as diversas áreas do conhecimento, interferindo de forma decisiva na ampliação de suas leituras de mundo.

Conclusão

A música enquanto construção histórica, ocupa lugar de proeminência nos mais diversificados meios sociais. Cada um dos elementos básicos da música relaciona-se à um aspecto humano específico. O relacionamento do ser humano com a música evidencia-se mesmo antes de seu nascimento, no útero materno, por intermédio do corpo da mãe. Após o nascimento, a criança continua interagindo com a sonoridade num movimento que se amplia cada vez mais no decorrer de seu desenvolvimento. A percepção e o posterior reconhecimento por parte de inúmeros especialistas sobre a importante contribuição que o trabalho com a música na escola oferece, no que diz respeito ao desenvolvimento integral de crianças e de jovens, justifica a lei que torna obrigatório o ensino de música nos ensinos Fundamental e Médio. A presente pesquisa que objetivou à priori, descobrir meios de intervenção sobre o primeiro momento da criança na Educação Infantil, auxiliando-a na superação dos conflitos que ali se evidenciam, expandiu-se no que se refere aos resultados que podem ser alcançados através do trabalho com a música na Educação Infantil. Nesse sentido foi possível constatar que o trabalho com a música constitui-se em estratégia cujas perspectivas vão muito além do caráter utilitarista, possuindo então possibilidades de intervenção que além do fazer (utilidade), se relacionam ao ser (constituição integral do ser). No próprio RCNEI, o trabalho com a música encontra-se dentro de um conjunto de seis eixos entitulado de “Conhecimento de Mundo”. O reconhecimento da música como uma das formas de linguagem permite a compreensão de que a construção do conhecimento por ela mediado na Educação Infantil, favorece a espontaneidade, a alegria, a expressão corporal e linguística, a interação, a integração, a constituição de valores e a ampliação das leituras de mundo por parte das crianças. Tais pressupostos atendem ao que se encontra prescrito no capítulo IV das Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (DCNEI), “As propostas Pedagógicas das instituições de Educação Infantil, ao reconhecer as crianças como seres íntegros, que aprendem a ser e conviver consigo próprios, com os demais e o próprio ambiente de maneira articulada e gradual, devem buscar a partir de atividades intencionais, em momentos de ações, ora estruturada, ora espontânea e livres, a interação entre as diversas áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã, contribuindo assim com o provimento de conteúdos básicos para a constituição de conhecimentos e valores”. Sendo assim, o trabalho com a música supera o limite utilitarista das ações pedagógicas na Educação Infantil, possuindo uma dimensão ampla, repleto de significações e sujeito a inúmeras possibilidades de ressignificações por parte das crianças, os quais futuramente atuarão com grande capacidade de intervenção na sociedade.
BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, MEC/ SEF, 1998.

BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.

Educação – Declaração Mundial sobre educação para todos – Jomtien, Taylândia, 1990. Disponível em: Acesso em 15 de maio de 2011.

GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de psicopedagogia musical. 3. ed. São Paulo: Summus, 1988.

LEI 11.769.
Disponível em:
acesso em 08 de maio de 2011.

SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música? 2.ed. São Paulo: Cortez, 1992.

Resolução CEB nº 1 de 07 de abril de 1999.
Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0199.pdf>
Acesso em 15 de maio de 2011.

WEIGEL, Anna Maria Gonçalves. Brincando de Música: experiências com Sons, Ritmos, Música e movimentos na Pré-Escola. Porto alegre: Kuarup, 1988.

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